segunda-feira, 5 de março de 2012

Novo estudo diz que não há vantagem metabólica no correr descalço...

...contanto que você esteja correndo com um tênis que pese 150 gramas e não comece a pisada com o calcanhar, ou seja, contanto que você seja um corredor mais eficiente.

O estudo chamado "Metabolic Cost of Running Barefoot versus Shod: Is Lighter Better?" (ou "Custo Metabólico de correr descalço ou com tênis: quanto mais leve melhor?") foi submetido por Jason Franz, Corbyn M. Wierzbinski e Rodger Kram e aceito pelo American College of Sports Medicine. A intenção era quatificar os "efeitos metabólicos" ao se adicionar massa aos pés dos corredores e comparar o consumo de oxigênio e a potência metabólica quando se corre descalço ou com tênis.

Eles selecionaram 12 corredores com boa experiência na corrida descalça e colocaram os sujeitos correndo na esteira com uma velocidade de 12 km/h (5 min/km). Durante um período de 5 minutos, o atleta corria descalço, alternava para tênis leves (150 gramas - Nike MayFly), tênis de 300 gramas e  400 gramas. Para cada situação foi medido o consumo máximo de oxigênio, produção de dióxido de carbono e a potência metabólica.

O resultado é que correndo com tênis de competição, se constata uma vantagem metabólica de 3 a 4% em relação à corrida descalça. Os tênis de 300 g e 400 g "perderam" a disputa.

Então há de se concluir que correr de tênis é melhor que correr descalço, certo? Calma lá, cowboy. Vamos ver por "fora da caixa". O estudo foi feito com corredores "descalços" experientes. Portanto, todos eles começavam a pisada com o antepé, tinham a pisada mais curta e eram, portanto, corredores mais eficientes do ponto de vista do gasto energético.

Então, é assim que eu vejo a conclusão da pesquisa: para se obter vantagem metabólica usando tênis de competição (150 gramas ou menos), é necessário correr descalço para aumentar sua eficiência biomecânica. Ou seja, correr descalço é benéfico ao ponto de se ter rendimento melhor correndo com tênis leves (competição ou minimalistas).

Se a pesquisa tivesse usado outros grupos de corredores, como os que tradicionalmente começam a pisada com o calcanhar, é óbvio que os resultados teriam sido diferentes, como já notado em outros estudos como os do professor Daniel E. Lieberman, da Universidade de Harvard.

Mais um estudo interessante, com resultados igualmente interessantes. Está ficando cada vez mais evidente de que menos é mais e está mais do que na hora das macas repensaram o amortecimento dos tênis.

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EDIÇÂO

Um leitor deste blog, Adolfo Neto, alertou que o estudo é questionável já que os corredores não correram absolutamente descalços na esteira, e sim, usando uma meia de yoga anti-derrapante. Isso mudaria totalmente os resultados da pesquisa pois os corredores foram avaliados de forma incorreta, já que não puderam correr descalços de verdade, ou seja, sem nada nos pés.

Eu estou de acordo com ele, pois qualquer coisa que se coloca nos pés, por mais leve que seja, muda a percepção do solo, altera-se a postura e não se corre do mesmo jeito. Digo isso por experiência própria.

Aliás, decidiram colocar as meias "por motivos higiênicos e de segurança", o que revela desconhecimento da corrida descalça e preconceito, pois era só limpar a esteira com um papo embebido de álcool que ela já estaria pronta para outra.

7 comentários:

  1. Olá Sérgio,

    Boa análise. Mas tem algumas questões ocultas neste estudo, que está sendo bastante discutido tanto na página de uma revista concorrente em inglês, quanto na lista de discussão dos verdadeiros corredores descalços (http://sports.groups.yahoo.com/group/RunningBarefoot/message/38611) e na lista de minimalistas ( https://groups.google.com/forum/?fromgroups#!topic/huaraches/AEUCMODQSpA ).

    Um dos corredores que participou do estudo faz parte desta segunda lista (a dos minimalistas). Ele disse que os corredores NÃO CORRERAM DESCALÇOS. Correram usando uma meia. Quem já correu descalço, sabe que correr de meia é muito diferente de correr descalço.

    Entrei em contato com o autor principal do estudo e pedi que ele me enviasse o texto completo do artigo (pois a CAPES não assina este periódico). Ele me enviou. E estava lá:

    "For the duration of the experiment, subjects wore very thin, slip-resistant yoga socks for safety and hygienic purposes."

    Portanto, para mim o estudo perdeu toda a validade. Sou cientista, acho que sei do que estou falando.

    Mais uma coisa: não comecei a correr descalço para ser mais eficiente.

    E, como disse Mark Cucuzzella numa das discussões sobfre o artigo:

    We are not asking the important question….which is not whether running barefoot is faster, but rather what do you learn from running barefoot?

    Adolfo Neto
    Curitiba, Brasil
    Professor da UTFPR

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    Oi Adolfo,

    Opa! Essa coisa de usar uma meia realmente invalida o estudo que queria comparar o descalço com o calçado. Eles podem argumentar que o objeto da pesquisa era a massa nos pés do corredor, mas quem corre totalmente descalço sabe que uma meia nos pés, por mais insignificante que pareça, já diferencia o feedback que se tem do chão onde se pisa.

    Não questiono a sua busca por eficiência, mais eu, pessoalmente, sinto que a corrida descalça proporciona mais eficiencia biomecânica.

    Mesmo assim, ainda consigo ler coisas positivas sobre a pesquisa, e ainda acho que é positiva para quem corre descalço como você, eu eu.

    Muito obrigado pela sua contribuição.

    Abs

    Sergio

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  2. Comentário do prof. Adolfo derruba o artigo...descalço tem que ser descalço!!! Deveriam mudar o título.

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    Oi Rodrigo,

    Realmente a coisa muda um pouco de figura com o uso das meias.

    Abs

    Sergio

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  3. Estou bem ansioso pela edição da Contra-Relógio do mês que vem. Quanto mais pessoas discutindo o tema, melhor! Abs.

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  4. Se, por hipótese, fosse possível traduzir a eficiência metabólica em velocidade, em uma maratona de 2:10h (250 minutos) 4~5% representariam de 10 a 12,5 minutos de vantagem, o que seria muito.
    Talvez aí esteja um dos segredos do Quenianos, Eíopes e vizinhos Africanos... treinar descalços e competir com tênis bem levinhos.
    Abraço!

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  5. O certo é que o mercado divulga um monte de pesquisas onde o resultado é sempre favorável à hipótese. Para quantas pesquisas favoráveis a uma prática qualquer existem outras tantas concluindo exatamente o contrário? Pelo menos o mercado está discutindo o assunto de forma aberta e a indústria está se movimentando. Abcs.

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  6. [...] um tênis de 150 gramas é mais vantajoso do ponto de vista metabólico do que correr descalço (leia aqui). Daí você tem acesso ao estudo e vê que o “descalço” era correr de meias [...]

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  7. [...] referência a outros estudos que compararam o descalço (ou simulado) com os tênis tradicionais (clique aqui), e eu também citaria o estudo feito por Lieberman (clique aqui). Esses trabalhos tomaram como [...]

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