
A comunidade científica/esportiva adora o tema "correr descalço". Porém, ao invés de tentar entender o porquê de correr descalço gerar menos impacto nas articulações, parece que a diversão atual de parte desse pessoal é pegar argumentos dos descalços e produzir estudos para tentar derrubá-los. Tudo bem, isso faz parte do jogo.
Já tivemos aquele em que disseram que correr com um tênis de 150 gramas é mais vantajoso do ponto de vista metabólico do que correr descalço (leia aqui). Daí você tem acesso ao estudo e vê que o "descalço" era correr de meias antiderrapantes em uma esteira. Descalço é descalço e acabou. Estar de meias não é estar descalço.
Hoje, o amigo Cássio Politi me mandou o seguinte tuíte: "@Sergio_CR Viu isso? O estudo diz que barefoot não fortalece os pés. Difícil de engolir, não? http://bit.ly/MvxIaM". Fui lá ler. É o blog Sweat Science, do Alex Hutchinson, que leio com frequencia. Lá ele fala sobre o estudo apresentado por pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte, EUA, no último congresso da Faculdade Americana de Medicina Esportiva, dia 31 de maio.
O título é "Magnetic Resonance Analysis of Intrinsic Foot Musculature during Running in Shod and Barefoot Conditions" (ou, "Análise de resonancia magnética da musculatura intrínseca do pé durante a corrida com tênis e descalço"). A intenção dos pesquisadores era ver se havia diferença na ativação dos músculos dos pés com as duas condições. Pegaram quatro corredores (isso mesmo, apenas quatro) e fizeram uma ressonância magnética no pé direito de cada um deles. Então, os quatro corriam uma milha (isso mesmo, apenas uma milha, ou 1,609 km) descalços na esteria e a ressonância era feita novamente. 48 horas depois, repetiam a experiência com os corredores usando tênis.
Conclusão dos pequisadores: correr uma milha na esteira não resulta em ativação significativa dos músculos intrínsecos dos pés (jura? ah, vá!). Correr descalço não resulta em ativação maior desses músculos comparativamente à correr com tênis. Isso sugere que correr descalço talvez (isso mesmo, talvez) não resulte em fortalecimento dos músculos intrínsecos dos pés."
Para começo de conversa, existem várias maneiras medir o esforço da musculatura durante qualquer tipo exercício. Já vi fazerem isso em laboratórios de biomecânica. Colocam-se eletrôdos nos pés e se consegue ver quanto calor tal ponto está produzindo, portanto, acionamento da musculatura (se algum expert do assunto estiver lendo, por favor me corrija). Agora por que foram medir antes e depois de correr? Método científico? Sei lá! E tem mais, 1,6 km? Não dá tempo nem de aquecer o corpo, companheiro!
No final das contas, eu acho isso tudo divertido: ver parte da comunidade científica pesquisando o assunto e olhando de forma errada. São os cientístas que tem que ver as coisas "por fora da caixa". Até porque eu, na minha insignificancia, não consigo provar que correr descalço deixa o meu pé mais forte ou não. Para mim, já está provado que correr com a técnica da corrida descalça resulta em menos impacto na corrida. Eu sinto isso, literalmente na pele. São mais de dois anos sem me lesionar.
A técnica da corrida descalça, ou técnica natural, pode ser praticada com qualquer tênis (vide o amigo e fisioterapeuta David Homsi, que mesmo usando um tênis "tradicional" corre começando a pisada com o antepé). É lógico que com um tênis com o calcanhar elevado e muito "amortecimento", isso fica muito mais difícil de ser feito. Eu mesmo não corro exclusivamente descalço.
Bom mesmo é saber que há cientistas que não procuram simplesmente tentar derrubar os argumentos dos descalços/minimalistas, e que há muitos estudos rolando por aí sobre esse assunto, inclusive no Brasil, e teremos muito assunto e estudos para discutir futuramente.
Mas, por favor, meus caros colegas do mundo acadêmico, apresentar um trabalho feito com apenas quatro corredores, correndo apenas uma milha? Faça-me o favor! Me poupe!
Sergio,
ResponderExcluirComo já disse lá no Twitter, resumo publicado em congresso em Medicina não vale nada.
Podem perguntar ao @GilsonVolpato, especialista em Lógica da Redação Científica. Segundo ele, alguns congressos até colocam em cima: FAVOR NÃO CITAR.
Por isso, enquanto não sair o trabalho completo, contando todos os detalhes, melhor nem dar atenção a esta pesquisa.
Sérgio: sou médico e "acostumado" com relatos de estudos científicos. Existe um método objetivo de avaliar a qualidade de um estudo dito científico, o que convencionou-se chamar nível de evidência, divididos em 4 níveis A a D. Um trabalho desse naipe aí é nível de evidência D, equivalente a opinião de especialista, ou seja, ZERO de significância.
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Oi Roberson,
Obrigado por compartilhar seu conhecimento e experiência. Nota D para esse!
Abs
Sergio
além do que metodologicamente equivocado...
ResponderExcluirSó fico perguntando: quem patrocinou esta pesquisa? Quem está interessado neste resultado! Bom...deixa pra lá. O certo que é tento fazer como dito no texto, não importa o calçado, sempre é possível praticar a pisada "correta". Se o calcanhar elevado do tênis vai prejudicar, isto é outro ponto. Mas nada impede de praticar de forma correta todo o movimento da corrida, desde a postura corporal até o toque do pé no solo. Abcs!
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Fala Leo,
Se há interesse por trás das pesquisas, nunca saberemos. Mas se fizerem, que façam direito e com amostragem decente. Vc está absolutamente correndo quanto à técnica. É ela que faz com que se gere menos impacto na corrida e pode ser feita com qualquer calçado.
Abs
Sergio
Disse tudo, Leo Mesquita! Também noto um policiamento meio chato da galera do barefoot running...é importante que todos tentem observar uma boa técnica, seja descalço ou correndo de coturno.
ResponderExcluirSeja descalço, com amortecimento, minimalistas, tênis de competição ou de conga, o importante é vivenciar o prazer de correr.
Abs
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Breno,
Concordo com vc e o Leo, mas "policiamento" da galera do barefoot? Onde acontece isso? Só se for em Minas onde o pessoal é mais organizado, mas que eu me lembre, são poucos para fazerem patrulhamento. Lá fora existe porque a prática é mais difundida.
Abs
Sergio
O problema do trabalho é a realização da ressonância que encarece muito o trabalho. Como médico e pesquisador, concordo que o desenho do trabalho foi mal feito. Abçs
ResponderExcluirAqui em Minas não tem nenhum policiamento, inclusive os meus amigos barefoot aqui de BH são todos nota 10! Abcs
ResponderExcluirMais uma pontuação. Muitas vezes os textos técnicos omitem os detalhes mais técnicos quando chegam ao mercado comum, ou seja, o nosso. Outro dia conversando com um amigo sobre o livro do Jack Daniels, onde ele descreve o método de obtençao indireta do VO2MAX, que ele havia comprado, perguntei se no livro era dito o tamanho da amostra utilizado na pesquisa. Para minha surpresa nem no livro isto é dito. Acho que só no artigo técnico, apresentado na universidade, é que estes detalhes devem ser revelados. Abcs.
ResponderExcluirPoliciamento talvez tenha sido uma palavra mal colocada mesmo, Sérgio, só acho que na maioria dos relatos que leio coloca o barefoot como a única saída para uma corrida "de raiz". Zatopek foi um monstro correndo com um estilo todo esquisito, enfim, avaliar a individualidade de cada um é importante também.
ResponderExcluirAbs
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Fala Breno,
Zatopek corria daquele jeito esquisito com uma sapatilha de couro e sem nenhum amortecimento. Ele também corria de botas para dificultar o treinamento e colhia os frutos de seu esforço como ninguém, ao treinar absurdamente forte para "passear" nas provas. Discordo que o descalço seja a salvação de todos os males, mas que é mais raiz, no sentido antropológico da coisa, é mesmo.
Como vc mesmo e o Leo concordam, a técnica é mais importante. O tênis - ferramenta - deve ajudar com que vc execute a técnica mais correta, e não dificultá-la.
Abs
Sergio
Olá Sérgio.
ResponderExcluirSou um barefoot runner há um ano e meio. Minha história está mais ou menos contada no meu website (onde estou fazendo um dossiê com tudo que estudei sobre a corrida descalça).
Como trabalho de conclusão de curso de minha Faculdade de Educação Física, fiz uma pesquisa comparando a amplitude angular das articulações da corrida descalça com a calçada. E obtive resultados bem interessantes.
Como nos outros trabalhos já publicados, minha maior dificuldade foi achar voluntários para correr descalço numa esteira. Consegui somente 8, até agora, pelo curto prazo para entregar o artigo pronto. Mesmo assim, as diferenças foram tão significativas que meu orientador, que é editor de uma revista científica, irá publicá-lo em breve.
Se quiser, lhe envio o artigo pronto, a título de curiosidade. E, se puder, pode tecer comentários sobre ele no Blog. Irá me ajudar e a todos desse nosso micromundo da corrida descalço.
Um abraço
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Opa Leo,
Gostaria sim de ler o artigo, se possível!
Vou dar uma olhada no seu blog!
Grande abraço,
Sergio
Há muito dinheiro envolvido nesta história.
ResponderExcluirEm primeiro lugar foram contratados alguns cientistas para arrasar o barefoot running, isto em 2001, 2002...
A nike vendo que estava em uma sinuca de bico começou sua linha free ano depois.
O movimento continuou muita gente correndo sem lesões, entre os que me incluo baixando tempos(ok mizuno universe e agora verificando se o sketchers go run é útil para algo)
Só espero que estes tênis comecem a baratear, até porque não se justifica para 400 em um zerodrop, digamos um new balance por exemplo. Tênis básico, preço básico também.
Felipe
ResponderExcluirEu também baixei bastante meus tempos com os minimalistas. Como você, comecei com um Universe, passei pra linha Minimus, depois Five Fingers, e agora só corro descalço.
Ta OK, hoje fui correndo pra faculdade (14 km cheios de obstáculos) com um Adidas CC Lace, um "minimalista" que não é exatamente um minimalista, mas é zero drop sola baixa, e custava R$89,90 - comprei dois - e infelizmente saiu de linha. Talvez não vendia bem por ser muito barato. Ou então, vendo que a onda dos minimalistas está pegando, a Adidas decidiu tirá-lo de linha e retornar em breve com outro nome e custando 5x mais.
Mesmo assim, ainda prefiro, e muito, correr descalço. Ainda sinto umas dorzinhas quando corro com os minimalistas e com os VFF.
Se interessar esse Adidas, procure numa loja Centauro. Aqui na Praia Grande ainda têm diversas unidades dele. Já vi em Campinas pouco tempo atrás. Ele costuma ficar na área de tênis para trilha.