segunda-feira, 25 de junho de 2012

A corrida descalça e a curiosidade científica



A comunidade científica/esportiva adora o tema "correr descalço". Porém, ao invés de tentar entender o porquê de correr descalço gerar menos impacto nas articulações, parece que a diversão atual de parte desse pessoal é pegar argumentos dos descalços e produzir estudos para tentar derrubá-los. Tudo bem, isso faz parte do jogo.

Já tivemos aquele em que disseram que correr com um tênis de 150 gramas é mais vantajoso do ponto de vista metabólico do que correr descalço (leia aqui). Daí você tem acesso ao estudo e vê que o "descalço" era correr de meias antiderrapantes em uma esteira. Descalço é descalço e acabou. Estar de meias não é estar descalço.

Hoje, o amigo Cássio Politi me mandou o seguinte tuíte: "@Sergio_CR Viu isso? O estudo diz que barefoot não fortalece os pés. Difícil de engolir, não? http://bit.ly/MvxIaM". Fui lá ler. É o blog Sweat Science, do Alex Hutchinson, que leio com frequencia. Lá ele fala sobre o estudo apresentado por pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte, EUA, no último congresso da Faculdade Americana de Medicina Esportiva, dia 31 de maio.

O título é "Magnetic Resonance Analysis of Intrinsic Foot Musculature during Running in Shod and Barefoot Conditions" (ou, "Análise de resonancia magnética da musculatura intrínseca do pé durante a corrida com tênis e descalço"). A intenção dos pesquisadores era ver se havia diferença na ativação dos músculos dos pés com as duas condições. Pegaram quatro corredores (isso mesmo, apenas quatro) e fizeram uma ressonância magnética no pé direito de cada um deles. Então, os quatro corriam uma milha (isso mesmo, apenas uma milha, ou 1,609 km) descalços na esteria e a ressonância era feita novamente. 48 horas depois, repetiam a experiência com os corredores usando tênis.

Conclusão dos pequisadores: correr uma milha na esteira não resulta em ativação significativa dos músculos intrínsecos dos pés (jura? ah, vá!). Correr descalço não resulta em ativação maior desses músculos comparativamente à correr com tênis. Isso sugere que correr descalço talvez (isso mesmo, talvez) não resulte em fortalecimento dos músculos intrínsecos dos pés."

Para começo de conversa, existem várias maneiras medir o esforço da musculatura durante qualquer tipo exercício. Já vi fazerem isso em laboratórios de biomecânica. Colocam-se eletrôdos nos pés e se consegue ver quanto calor tal ponto está produzindo, portanto, acionamento da musculatura (se algum expert do assunto estiver lendo, por favor me corrija). Agora por que foram medir antes e depois de correr? Método científico? Sei lá! E tem mais, 1,6 km? Não dá tempo nem de aquecer o corpo, companheiro!

No final das contas, eu acho isso tudo divertido: ver parte da comunidade científica pesquisando o assunto e olhando de forma errada. São os cientístas que tem que ver as coisas "por fora da caixa". Até porque eu, na minha insignificancia, não consigo provar que correr descalço deixa o meu pé mais forte ou não. Para mim, já está provado que correr com a técnica da corrida descalça resulta em menos impacto na corrida. Eu sinto isso, literalmente na pele. São mais de dois anos sem me lesionar.

A técnica da corrida descalça, ou técnica natural, pode ser praticada com qualquer tênis (vide o amigo e fisioterapeuta David Homsi, que mesmo usando um tênis "tradicional" corre começando a pisada com o antepé). É lógico que com um tênis com o calcanhar elevado e muito "amortecimento", isso fica muito mais difícil de ser feito. Eu mesmo não corro exclusivamente descalço.

Bom mesmo é saber que há cientistas que não procuram simplesmente tentar derrubar os argumentos dos descalços/minimalistas, e que há muitos estudos rolando por aí sobre esse assunto, inclusive no Brasil, e teremos muito assunto e estudos para discutir futuramente.

Mas, por favor, meus caros colegas do mundo acadêmico, apresentar um trabalho feito com apenas quatro corredores, correndo apenas uma milha? Faça-me o favor! Me poupe!

domingo, 17 de junho de 2012

Técnica é fundamental

Quando comecei meus experimentos com os tênis minimalistas há 2 anos e meio, minha primeira escolha foi o Vibram Five Fingers. No início, abusei e fiz o que o pessoal no exterior chama de TMTS (Too much, too soon - fazer demais, cedo demais), ou seja, já saí correndo 8 km de cara e minhas panturrilhas gritavam no dia seguinte. Moderei e fui me acertando.

Depois de um certo tempo, comecei a ter uma tal de TOFP (Top of the foot pain), uma dor aguda no peito do pé - fruto de técnica incorreta. Só quando decidi tirar o Five Fingers e começar a correr descalço eventualmente, foi que entendi o que estava fazendo de errado. Minha cadência (quantidade de vezes em que o pé toca no chão durante a corrida, medida em passos por segundo) estava abaixo de 180 e ainda pousava os pés um pouco à frente do meu centro de gravidade.

Fui acertando a técnica correndo ora com as sandálias do tipo huarache, ora descalço e fui aprimorando o jeito de correr. De vez em quando corria com o Vibram e não dava certo. Apareciam certas dores e passei a me distanciar deles. Até criei minha própria teoria da conspiração: separar os dedos dos pés não é natural. Até faz sentido. Acho que tirando o dedão, rola uma certa conversa entre os dedos, do tipo: "Escuta, acabei de encostar no chão, e você?", e o mindinho responde: "Eu já saí do chão" e assim por diante.

Correndo descalço e com as huaraches os dedos ficam livres para se esticarem e se mexerem sem interferencia alguma. Portanto, os VFF eram vilões. Meses passaram e quando fui correr a Tribuna, em Santos, decidi dar outra chance às luvas dos pés. Deu certo. Na verdade, deu mais certo do que eu pensava. Na verdade, foi ótimo.

Ontem, antes de começar a Maratona de São Paulo (que acompanhei pela TV, pois tinha festa junina da escola dos meus filhos*), calcei os VFF e fiz um excelente treino de 15 km. Minha teoria da conspiração era uma fraude. Se tem alguma conversa entre os dedos dos pés eu realmente não sei, mas cheguei à conclusão de que o que importa é realmente a técnica da corrida. Se ela não é boa, não importa o que você está calçando - você terá problemas. Com os tênis minimalistas, isso é fundamental.

Foi por isso que escrevi a matéria que está na edição deste mês da Contra-Relógio - "Adapte-se aos tênis minimalistas", em que faço um pequeno guia para aqueles que desejam correr com os tênis mínimos não cometam erros que eu cometi e que possam colher bons frutos e uma corrida com uma técnica mais "limpa", ou como nós que corremos descalços chamamos: com uma técnica natural.

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* Lógico que depois do treino acompanhei a MSP e fiquei emocionado com a vitória do Solonei. Por tudo que esse cara passou nos últimos meses, vejo a conquista em São Paulo como uma volta por cima e a retomada da confiança que ele tanto precisa. Vamos ver o que ele vai aprontar na Maratona de Nova York, onde tem presença já confirmada. Parabéns, Solis!